Mais uma vez, com muita honra e alegria, recebemos, para este blog, um texto do Sifu Robson Macedo. Agora, ele nos enviou um artigo originariamente escrito há mais de 20 anos, porém com atualidade total. Nele, Sifu Robson expressa a sua compreensão a respeito dos sentidos da prática das artes marciais, dos seus objetivos e aspectos éticos.
Texto original extraído da Revista Fatal Artes (1996) pp. 26-27.
Muito obrigado, Sifu, por mais esta bela contribuição!
A Natureza das Artes Marciais
Por Sifu Robson Macedo
Seguindo por princípios advindos de uma compreensão profunda das forças do universo em que do microcósmico ao macrocósmico, vê-se a eterna dança da contração e expansão, do atrair e repulsar, da rigidez e da suavidade, facetas de uma energia primordial única que em tudo se apresenta, os grandes sábios orientais, sintetizaram movimentos físicos que alicerçados nestes princípios permitiram a harmonização do ser com o universo em sua dinâmica, conscientizando-o desta energia em seu eterno fluir. Ao longo dos tempos foram transmitidos por castas selecionadas, e levados a outros povos do oriente, e desenvolvidos de outras formas, sendo aplicados das mais diversas finalidades, como por exemplo, na preparação do monge budista para suportar as extensas horas de meditação.
As necessidades de uma época direcionaram moldagem e adaptação destes princípios para a autodefesa, pois um indivíduo através da atitude consciente de aplicação da força conseguiria facilmente dominar qualquer ofensor, permitindo, por exemplo, aos monges se defenderem dos assaltantes em suas longas peregrinações. Assim, foram despertando a atenção e curiosidade dos homens agressivos que se viram atraídos pelo poder que poderiam ter com esta capacidade.
O paradoxo estava lançado, o que outrora fora desenvolvido para prazer, harmonia e paz, via-se aplicável para a guerra. Mas graças à essência de sua natureza, todo aquele que se dedica a essas práticas, imperceptivelmente, na medida em que se desenvolve, torna-se cada vez mais sereno e pacífico, transformando o homem agressivo e rude em tranquilo e autocontrolado.
Muitos Mestres, hábeis nestas práticas e conscientes destes princípios, refinaram suas técnicas com grande eficiência para o combate corpo a corpo, permitindo aqueles que a elas se dedicaram, tornarem-se grandes lutadores pela justiça, paz, amor e harmonia.
Também surgiram alguns alunos que se julgaram “mestres”, devido a sua grande habilidade em luta, pararam no caminho, deturparam antigos ensinamentos, e criaram estilos próprios tolhidos dos princípios maiores, limitados por natureza à força física e agressiva, “desenvolvendo-se” como verdadeiros animais estúpidos e vazios. Atualmente, em parte, o mundo ocidental valoriza muito mais esta agressividade; devido talvez à selva em que vivemos, onde vinga o conceito que: só os “fortes” sobrevivem.
Violência gera violência, e cada vez mais o adepto deste conceito ficará perdido e iludido que está no caminho certo, preocupado com o mais forte, e temeroso de ser vencido, totalmente instável emocionalmente, arrogante, insensível e doente. “A capacidade de luta é apenas a migalha que cai da mesa, um método para atingir o princípio maior”. Cabe ao postulante avaliar bem o que deseja para si, e não se iludir com propostas de resultados inatingíveis, e com sonhos infantis de super-heróis.
Considerações Finais:
A força como tudo na vida é um conceito relativo, físico; a força do homem está sim na sua sabedoria e sensibilidade, características de um ser tranquilo e saudável, que se alia a força da natureza, que é infinitamente poderosa. Logo, a verdadeira arte marcial é aquela que orienta o homem neste sentido e que conserva em si um legado. A joia dos antigos princípios, ou seja, a pedra filosofal dos augustos ensinamentos, preservados para as futuras gerações.
Nossos agradecimentos a todos os Mestres por ter trazido esta arte marcial para nosso convívio. Em particular, agradeço ao meu Sifu, Mestre Li Hon Ki (RIP), pelos seus ensinamentos, por sua dedicação e amor a esta Arte.
Muito obrigado a todos
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